Pavel Morozov
A vida social necessita de atos
disciplinadores de conduta. E isso começa pela própria família, com a noção de
educação, hierarquia e ordem, que os pais devem estabelecer para os atos dos
filhos. Dentro dessa função educacional, é óbvio que existirá sanções e
punições. Daí por que os pais dão umas palmadas nos filhos indisciplinados e
teimosos. Para que eles reconheçam, desde a mais tenra idade, os seus limites.
Não quer dizer necessariamente que os castigos sejam totalmente justos. Às
vezes os pais agem com justiça e outras vezes não. No entanto, nem por isso é
razão para colocá-los na cadeia.
Como diria o provérbio, a porrada
não é santa, mas faz milagres. Pode-se perfeitamente apanhar em casa, para
depois não apanhar da polícia ou do Estado. Quantas pessoas não são marginais,
criminosas, egoístas ou delinquentes por uma boa falta de varadas na infância?
Uma criança que rouba, que bate em outra criança, que mente ou que age como um
vândalo, de alguma forma merece ser coibida. E se possível, por meio do castigo
físico. Não há nada fora do normal nisso. A sociedade também tem seus
mecanismos de coibição física. Por acaso a polícia vai passar a mão na cabeça
dos bandidos? Os criminosos que vão para a cadeia não sofrem violência do
Estado quando perdem sua liberdade? Então por que uma criança não pode
aprender, em casa, a própria noção dos limites que aprende na sociedade?
Entretanto, o Estado de Direito
caminha para uma ditadura cultural nas leis e nos costumes, ainda que preserve
a aparência formal de democracia. A chamada PL – 7670/2010, ou a “lei da
palmada”, proposta pelo governo federal e adocicada por picaretas notáveis,
como as deputadas Teresa Surita e Maria do Rosário, visando medidas punitivas
para pais que dão palmadas nos filhos, lembra-me a figura de Pavlik Morozov, o
garoto soviético que delatou o pai para a GPU-NKVD, uma das nomenclaturas da
polícia política na época de Stálin. A cultura de delação é a mesma. Mudam-se
tão somente os pretextos ideológicos. Antigamente era a “defesa da revolução”
contra os “inimigos do povo”. Agora são os “direitos humanos”, com a delação em
massa dos pais “agressores”, pelo simples fato de darem umas palmadas nos
garotos levados.
Pavlik Morozov nasceu na época da
guerra civil russa, em 1918. Em 1932, Stálin jogou a GPU-NKVD e o exército
vermelho numa outra grande guerra civil pela coletivização forçada da
agricultura contra os camponeses ucranianos. Morozov era filho de um pequeno
fazendeiro que queria esconder os seus víveres para sobreviver, já que a
polícia política estava fazendo uma campanha de confisco de alimentos, para
sujeitar o campesinato à fome. Todavia, o garoto, que frequentava a escola
controlada pelo Partido Comunista, começou a fanatizar-se com o discurso
bolchevista e delatou a família, em particular, o pai, que escondia seus
mantimentos do governo. A história tem o um desfecho macabro: o pai,
desesperado pelo fato de o filho tê-lo denunciado, mata-o. A polícia política
descobre o crime e deporta o pai para os campos da Sibéria.
A história trágica acabou por
virar uma propaganda de santificação e doutrinação ideológica dos jovens nas
escolas. Pavlik Morozov virou o modelo da criança soviética, que em nome da
causa revolucionária, era capaz de delatar os pais para a polícia. Músicas,
composições, poemas, e peças de teatro eram produzidas para louvar a
traidor-mirim, elevado a modelo cultuado pelo Partido-Estado. Inclusive,
associações de escoteiros foram criadas com o nome de Pavlik Morozov, que
recebeu uma homenagem póstuma como um “herói soviético”.
Ou seja: a União Soviética quis
estatizar a alma das crianças, transformá-las numa seção do NKVD ou da KGB
contra os pais dissidentes. Ainda no século XIX, como diria antes o terrorista
Netchaïev, pai espiritual do populismo russo e do bolchevismo: a família, a
amizade, as tradições, o país e a religião deveriam ser odiados pelo único amor
digno de nome: a revolução. Anos depois, com a revolução totalitária soviética,
o amor foi prolongado: se antes era só pela revolução, agora virou também o
amor total e incondicional pelo Partido-Estado. As crianças deveriam sacralizar
o demônio estatal, odiando e traindo os seus pais e familiares. Alguém ainda se
nega a crer que o Estado brasileiro, atualmente, pensa a mesma coisa?
Alguns anos após a queda do Muro
de Berlim, alguns historiadores tentaram investigar a história de Pavlik
Morozov. E descobriu-se que tudo fora inventado pelo NKVD e que a verdadeira
história poderia ser confirmada. Estaríamos aí diante de uma das grandes
mentiras comunistas da história.
Aliás, a denúncia de filhos
contra pais e a prisão em massa de milhões de pessoas pela ditadura stalinista
causaram um fenômeno gravíssimo na Rússia soviética: a leva de crianças
abandonadas, chamadas besprizornye, espalhadas pelas cidades e campos. Muitos
desses menores viravam bandidos e criminosos. Os orfanatos criados pelo Estado
para resolver esse problema eram verdadeiros depósitos humanos dos filhos dos
chamados “inimigos do povo”. Tratadas em condições sub-humanas, muitas dessas
crianças morriam. A lógica soviética também foi aplicada na Alemanha nazista e
ainda vigora em outros sistemas totalitários, como Cuba, Coréia do Norte, China
e Vietnã. A primazia do Estado sobre a educação das crianças instrumentaliza o
terror generalizado da polícia política no ambiente familiar e o destrói.
A “lei da palmada”, como a
doutrinação ideológica camuflada de “campanhas educativas” ou “currículos
escolares”, não são formas de criar mecanismos de delação de filhos contra
pais? No afã de supostamente proteger os filhos contra os pais, na verdade, o
Estado joga uns contra outros. Os pais não terão o direito de disciplinar ou
educar os filhos: estes serão a extensão da ideologia dos professores, do
Conselho Tutelar, do Ministério Público, em suma, do próprio Estado, que usurpa
as funções que não lhes são propícias. As crianças, induzidas a crerem que os
pais são potencialmente criminosos, serão sugestionadas a policiá-los ou até a
denunciá-los, já que a reprimenda ou o castigo podem ser desforrados pelo filho
birrento e mal criado. É o “narodny komissariat,” o “comissário do povo”
moderno usando os filhos dos outros como espiões e olheiros da vida alheia.
Na prática, a lei estimula a perversão de desmoralizar a autoridade dos
pais e superdimensiona a autoridade das crianças, invertendo as hierarquias e
colocando os pais numa situação de completa chantagem. E quem tomará conta
dessas hierarquias? São as próprias crianças imaturas? Não, serão os
burocratas, agora elevados a paizões usurpadores dos pais verdadeiros!
Na verdade, uma das más intenções
do Estado é o de criar menores sem limites, sem respeito à autoridade da
família e dos pais, sem referência a qualquer princípio moral, sendo
doutrinadas a terem “direitos”, ignorando os direitos e limites alheios, e
idolatrando o Estado como uma espécie abstrata de “pai” e “mãe” protetores.
Obviamente, o vazio moral deixado pelos pais será substituído pela engenharia
social dos educadores, que querem injetar toda a sorte de cultura politicamente
correta nas crianças, desde a ideologia de sexualidade promíscua e gay até a
neurotização imbecilizante da linguagem e do raciocínio. Essa legião de
pequenos Hitlers e Stálins da sociedade, em nome da exigência mimada de
direitos ilimitados, serão os grandes tiranos da fase adulta, marginais, egocêntricos,
desajustados, psicopatas, criminosos e drogados. Ou mais, serão a massa de
manobra das tiranias maiores dos políticos e da burocracia estatal.
Alguém duvida que as causas da
violência estejam no enfraquecimento da autoridade dos pais e da disciplina
familiar que educa e limita os ímpetos? Alguém duvida que a tentativa de
alimentar a noção ilimitada de “direitos”, praticada pelo Estado, é uma forma
de isentar os cidadãos, desde a mais tenra idade, de assumir os deveres éticos
interiores exigidos às mentes maduras? Ou mais, a tentativa de burocratizar
mais ainda a vida civil, retirando das famílias o poder de educar e proteger os
seus próprios filhos da sanha dominadora do Estado?
A lei da palmada é a tentativa de
prolongar eternamente a infância das crianças, desprovendo-as de limites e
nortes éticos que as façam crescerem. Quando o governo intervém, querendo mimar
até os caprichos infames dos infantes contra os adultos, demonstra-se a sua
intenção de prolongar o infantilismo moral e a cultura de dependência,
reduzindo os cidadãos a meros bezerrinhos domáveis pela engenharia social e
pela classe política. Ou na pior das hipóteses, demonstra uma exigência espúria
de falsos direitos, que significará a perda completa de direitos reais, que são
os da liberdade e dos laços privados da família. Sob o preço, inclusive, de
trair a própria família.
Uma questão deve ser dita em bom
tom, para arraigar nas consciências sensatas deste país: quem propõe uma lei
dessa natureza é intrinsecamente maligno e pernicioso, possuindo uma
deficiência de caráter assombrosa. Pessoas como as deputadas Maria do Rosário e
Teresa Surita deveriam ser proscritas da vida pública. Mas não só isso. Quem
escreveu o PNDH-3 e quem propôs a espionagem e delação dos pais deve ser banido
da vida política como um leproso moral, um doente espiritual, uma pessoa
completamente despreparada para representar a família brasileira. Isso envolve
os acólitos da presidente Dilma Rousseff e o governo federal, que estão por
detrás da criminalização dos pais e da introdução da agendinha gay nas escolas,
destilando ignorância, corrupção moral, analfabetismo e destruição espiritual
das crianças e também das famílias.
A Bíblia nos diz: “honra teu pai
e tua mãe”. E o Nosso Senhor falou nas palavras do Evangelho de Marcos 10:14:
"Deixem vir a mim as crianças, não as impeçam; pois o Reino de Deus
pertence aos que são semelhantes a elas”. Não está claro demais que o
Leviatã estatal petista brasileiro quer destruir o cristianismo e a família?
Leonardo Bruno
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