quinta-feira, 22 de março de 2012

Os mais perversos da história: Pol Pot, o arquiteto de um genocídio.

Pol Pot em uma das poucas fotografias.

Pol Pot foi um líder que não mostrou misericórdia para com seu povo. Foi responsável pela morte de 2 milhões de pessoas, um terço da população de seu país, o Camboja. Durante quatro anos, torturou e matou cambojanos de fome. Homens, mulheres, crianças e bebês muitas vezes foram brutalmente agredidos com martelos e enterrados vivos.

Nascido em Saloth Sar em 1925, foi criado numa próspera fazenda de arroz ao norte de Phnom Penh, num Camboja governado pelos franceses. Nunca trabalhou em um campo de arroz, nem conhecia bem a vida na aldeia, pois aos seis anos de idade foi mandado para a capital para se tornar monge.

Em 1949 Pol Pot foi estudar em Paris depois de ganhar uma bolsa para aprender radioeletricidade. Ali seu racismo inato encontraria expressão no comunismo extremista.

Durante os anos que Pol Pot estudou em Paris , o Partido Comunista era o partido stalinista mais linha-dura da Europa Ocidental. Também absorveu a filosofia de outro estudante cambojano de esquerda, Khieu Samphan, segundo o qual, para fazer uma verdadeira revolução rural, o Camboja precisava regredir à economia camponesa – sem cidades, indústrias, moeda ou educação.

Depois da faculdade em Paris, Pol Pot voltou ao Camboja cheio de ideais revolucionários e entrou para o Partido Comunista clandestino, que fazia oposição ao monarca apoiado pelos franceses, o rei Sihanouk, e ao presidente Lon Nol. Em dois anos ele foi nomeado secretário-geral do partido e, para não ser capturado pelas forças governamentais, fugiu para as montanhas, com seus quadros agora fortemente armados, e pregou sua doutrina revolucionária para as tribos enquanto travava uma feroz guerrilha. Desde o início da década de 1970, Pol Pot e seu grupo, conhecido como Khmer Vermelho, envolveram-se numa campanha violenta contra o governo de Lon Nol e, em 1972, o conflito havia chegado a uma verdadeira guerra civil.


Posição geopolítica do Camboja.

No dia 17 de abril, logo depois do ano-novo cambojano, o Khmer Vermelho entrou na capital vitorioso, depois de uma guerra de cinco anos.

Depois de 24 anos de vida, o Partido Comunista do Camboja, agora rebatizado de Campuchea, havia conseguido uma vitória retumbante.

O mundo reagiu com perplexidade quando os revolucionários esvaziaram as cidades, destruíram os bens de consumo ocidentais, aboliram o dinheiro e os mercados cambiais estrangeiros e instituíram o controle estatal sobre todo o comercio nacional e internacional começando a liquidar a elite ocidentalizada.

Campos de trabalhos, aonde o Khmer Vermelho matava seu próprio povo de exaustão e fome.

A catedral católica romana de Phnom Penh foi demolida pedra por pedra até não sobrar nenhum vestígio do mais proeminente edifício ocidental do país.

As coisas chegaram ao ponto de o novo governo declarar que o ano não era mais 1975, mas o Ano Zero.

Médicos, advogados, professores, mecânicos, varredores de ruas, todos foram obrigados a ir para o interior trabalhar como camponeses, cultivando arroz e construindo represas para a revolução. Dois milhões de cambojanos que viviam em Phnom Penh deixaram a cidade em 72 horas. Com a evacuação forçada das cidades, o Khmer Vermelho praticamente cortou toda e qualquer ligação material que a população tinha com o regime antigo. Os hábitos sociais, religiosos, familiares e econômicos foram abalados enquanto a população era lançada numa luta pela sobrevivência.

Para reforçar suas políticas, Pol Pot declarou que dali em o dinheiro e o pertence pessoal seriam banidos.

As pessoas até mesmo mulheres grávidas ficavam dentro d’água até o pescoço nas estações frias e chuvosas, trabalhando em canais, com as pernas e pés inchados e sangrentos. Se alguém parasse de trabalhar por causa de alguma doença, não recebia comida. O slogan do Khmer Vermelho na época era “Mantê-lo vivo não e ganho, destruí-lo não é perda”. Todos tinham de trabalhar.

Pol Pot acreditava que para sua visão de pureza dar certo o individualismo tinha de ser banido. Só destruindo todas as raízes, todos os vestígios do pensamento individual é que surgiria um povo dedicado a um regime coletivista.

Com o advento da nova moralidade revolucionária, os maridos eram separados das mulheres por longos períodos, a permissão para se casar só era dada pela Angkar (A Organização), e só sob regras estritas, e o sexo pré-conjugal tornou-se passível de castigos extremos; as vezes até a pena de morte.

"Soldados" do Khmer Vermelho mostram com orgulho a cabeça de um compatriota decapitado como troféu.

Os adolescentes eram arrancados da família e mandados para um rigoroso treinamento ideológico. Pol Pot acreditava que, se treinasse seus jovens recrutas com jogos cruéis, eles acabariam se transformando em soldados que gostavam de matar, e encorajava os jovens a ter prazer em atormentar animais e a fazer suas vitimas sofrer o mais possível.

Agora as crianças mal viviam com os pais: as que tinham menos de seis anos eram entregues a “avós” que cultivavam seu espírito revolucionário com a narração de histórias heróicas.

Antes da ascensão ao poder de Pol Pot , o Camboja possuía uma população majoritariamente budista. Após a entrada ao poder de Pol Pot o budismo foi varrido do país. Executaram os monges mais importantes, destituíram o resto de suas funções sacerdotais, proibiram o acumulo de mérito por meio das doações e destruíram muitos templos.

Depois o Khmer Vermelho começou a perseguir e executar líderes políticos, oficiais militares, funcionários públicos e todos os que tivessem instrução. Em alguns casos matavam junto suas mulheres e filhos. As crianças muito pequenas, novas demais para ter ideia do que estava acontecendo, eram pegas pelos soldados do Khmer Vermelho, que lhes arrancavam os membros um por um em frente aos seus pais.

As escolas e bibliotecas foram fechadas logo depois que o Khmer Vermelho subiu ao poder, e os jornais deixaram de existir.

Com o Khmer Vermelho no poder só havia duas soluções para o povo: “Se a bala das armas não acabava com alguém, a fome o fazia”.

O arquiteto dessa desgraça controlava todos os aspectos da vida das pessoas, mas nunca assumiu nenhuma responsabilidade pelo sofrimento de seu povo, nem pela morte de alguém que tivesse morrido por algo que não fosse o motivo certo.

Numa casa de Phnom Penh onde havia funcionado uma escola Pol Pot estabeleceu a notória prisão de Tuol Sleng, ou S-21, como centro de extermínio de uma rede nacional de encarceramento, interrogatório, tortura e execução. Todos os que eram levados para a S-21 eram fotografados e seus crimes meticulosamente registrados. O Khmer Vermelho criou seu próprio código para registrar os crimes e o destino dos prisioneiros.

Com os oponentes de classe e os adversários políticos fora do caminho, Pol Pot, impelido pelo racismo que ocupava grande parte de seu programa, voltava a atenção para as minorias étnicas do Camboja. Ele acreditava que só havia uma raça pura: a raça do Khmer, originária do Camboja Inferior.

As crianças dentro do regime de Pol Pot eram doutrinadas a aprender a matar e torturar com habilidade.

No final de 1978, com as execuções e a fome no auge, e com o regime de Pol Pot parecendo invencível, o governo começou a sua autodestruição. Com informações provenientes de suas forças de segurança, o Partido caiu sob o feitiço da contraespionagem, consumindo a si mesmo quase da mesma forma que consumira o povo do Camboja. Seus membros haviam esmagado toda e qualquer oposição pelo terror e pela coerção. O ódio psicótico que Pol Pot sentira durante toda a vida pelos vietnamitas seria sua ruína.

Depois de uma serie de violentos confrontos de fronteira com o Vietnã, 150.000 soldados vietnamitas atacaram a fronteira campucheana e, no dia 6 de janeiro, aproximaram-se de Phnom Penh. Os expurgos constantes de Pol Pot haviam rompido os elos de comando entre oficiais e soldados e abalado o moral tanto do exército quanto do Partido. Aqueles acusados de traição que não haviam traído ninguém não sabiam o que fazer: morrer em nome do Partido ou fugir. Mas o povo cambojano sabia o que fazer – recebeu os vietnamitas de braços abertos e com gritos de alegria. Ironicamente, três cambojanos vietnamitas, que haviam escapado do expurgo – Heng Samrin, Chea Sim e Ros Samay – logo seriam chefes do governo que substituiu Pol Pot.

Pol Pot e seus capangas fugiram para o norte do Camboja e para a Tailândia, e o odiado administrador da S-21, evitou a captura. Enquanto fugia num Mercedes branco e depois num helicóptero, que o levou, e a seus asseclas, para a Tailândia, milhares de outros membros do Khmer Vermelho deixavam um Camboja arrasado. Pol Pot continuou lutando de sua base militar ao lado de seus seguidores fiéis no interior e formou a Frente de Libertação dos Povos do Khmer. Outros vinte anos se passariam antes de Pol Pot ser visto de novo – mas dessa vez num tribunal. Finalmente o Khmer Vermelho voltou-se contra seu antigo líder, que foi preso, não pelos crimes de genocídio ou contra a humanidade, mas por ser inimigo político.

Os campos de arroz aonde o povo cambojano trabalhava para o regime do Khmer Vermelho de Pol Pot eram regados a sangue.

Numa entrevista feita por Nate Thayer pouco antes de sua morte, Pol Pot recusou-se a dizer se havia se arrependido de ter causado morte de tantas pessoas inocentes e disse que os erros cometidos pelo regime foram principalmente os de implementação da política. Duas semanas mais tarde, em abril de 1998, Pol Pot morreu de morte natural.

Em busca de um “comunismo puro”, o Khmer Vermelho reduziu uma economia devastada pela guerra, mas tradicionalmente capaz de recuperação rápida, a outra quase sem perspectiva de regeneração espontânea. As regras draconianas de vida sob Pol Pot transformaram o Camboja num gulag de dimensões nacionais.

Autor: Leandro CHH

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Você quer saber mais?

TWISS, Miranda. Os Mais Perversos da História. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2004.

CHANDLER, David P. Brother Number One: a Political Biography of Pol Pot. Oxford: West-view, 1999.

JACKSON, Karl D. Cambodia 1975-1978 – Rendezvouz With Death. Princeton, 1989.

KIERNAN, Ben. The Pol Pot Regime. Yale University Press, 1996.

MARTIN, M.A. Cambodia – A Shattered Society. University of California Press, 1994.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Partido brasileiro exalta, eu juro!, “prosperidade” da Coréia do Norte e lamenta morte de carniceiro. Vamos pôr um pouco de LUZES no debate!!!

Não!

Um leitor havia enviado um comentário a respeito, mas não acreditei! E, no entanto, é verdade! O PC do B emitiu uma nota de pesar pela morte do carniceiro comunista Kim Jong-Il, ditador da Coréia do Norte, e de apoio a seu sucessor, nada menos do que Kim Jong-Un, seu filho. Segundo o PC do B, “o camarada Kim Jong Il manteve bem altas as bandeiras da independência da República Popular Democrática da Coréia, da luta anti-imperialista, da construção de um Estado e de uma economia prósperos e socialistas, e baseados nos interesses e necessidades das massas populares.”

Já haviam dito muito coisa sobre a Coréia do Norte, mas nem o comunista mais tarado ousou chamar o país de “próspero”. Boa parte dos estimados 22 milhões de norte-coreanos passa fome. No campo, há relatos freqüentes de… canibalismo! Antes que eu publique a íntegra da nota dos preclaros camaradas do PC do B, exibo duas imagens. A primeira é um mapinha das duas Coréias (a comunista é a vermelha…), para que vocês possam entender a imagem seguinte.

duas-coreias-mapa-fisico

Muito bem. Agora vejam uma imagem de satélite que registra as duas Coréias à noite. A capitalista, do Sul, hoje um dos países mais desenvolvidos do mundo, é praticamente tomada pelas luzes, sem áreas escuras. Dêem uma olha na Coréia do Norte. É o que o PC do B chama de “economia socialista próspera”.

duas-coreias-luzes

Agora que vocês podem perceber de forma muito clara (!!!) o que é a prosperidade da Coréia do Norte, leiam a nota do PC do B. Volto para arrematar.

Estimado camarada Kim Jong Um
Estimados camaradas do Comitê Central do Partido do Trabalho da Coréia

Recebemos com profundo pesar a notícia do falecimento do camarada Kim Jong Il, secretário-geral do Partido do Trabalho da Coreia, presidente do Comitê de Defesa Nacional da República Popular Democrática da Coreia e comandante supremo do Exército Popular da Coreia.

Durante toda a sua vida de destacado revolucionário, o camarada Kim Jong Il manteve bem altas as bandeiras da independência da República Popular Democrática da Coreia, da luta anti-imperialista, da construção de um Estado e de uma economia prósperos e socialistas, e baseados nos interesses e necessidades das massas populares.

O camarada Kim Jong Il deu continuidade ao desenvolvimento da revolução coreana, inicialmente liderada pelo camarada Kim Il Sung, defendendo com dignidade as conquistas do socialismo em sua pátria. Patriota e internacionalista promoveu as causas da reunificação coreana, da paz e da amizade e da solidariedade entre os povos.

Em nome dos militantes e do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) expressamos nossas sentidas condolências e nossa homenagem à memória do camarada Kim Jong Il.

Temos a confiança de que o povo coreano e o Partido do Trabalho da Coreia irão superar este momento de dor e seguirão unidos para continuar a defender a independência da nação coreana frente às ameaças e ataques covardes do imperialismo, e ao mesmo tempo seguir impulsionando as inovações necessárias para avançar na construção socialista e na melhoria da vida do povo coreano.

Renato Rabelo, presidente nacional do PCdoB e Ricaro Abreu Alemão secretário de Relações Internacionais do PCdoB

Encerro
Não custa lembrar que esse foi o partido que tentou fazer no Brasil a guerrilha do Araguaia. Os heróis queriam um regime como aquele liderado por Kim Jong-Il. Enquanto, por aqui, seus bravos representantes recebem indenização por sua “luta contra a ditadura” — é piada! —, na Coréia do Norte, apóiam uma tirania nuclear que mata o povo de fome e o leva a experimentar a própria carne.

O comunismo, em suma, é a menor distância entre o canibalismo e o canibalismo.

Por Reinaldo Azevedo

Você quer saber mais?

http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/partido-brasileiro-exalta-eu-juro-prosperidade-da-coreia-do-norte-e-lamenta-morte-de-carniceiro-vamos-por-um-pouco-de-luzes-no-debate/

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